Pesquisa avaliou as taxas de infecção assintomática, resposta imunológica e sintomas crônicos da Chikungunya em crianças e adolescentes

Uma pesquisa realizada em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador (BA), acompanhou por quatro anos 348 crianças e adolescentes para entender como o vírus Chikungunya afeta esse público. O estudo foi coordenado pela pesquisadora Viviane Boaventura, da Fiocruz Bahia, e publicado na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases (https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0013254 ).

A investigação foi realizada durante o andamento de um ensaio clínico de fase III da vacina Butantan-Dengue, e buscou avaliar a taxa de pacientes sem sintomas clínicos (infecção assintomática), a resposta imunológica (soroconversão) e os casos de dores nas articulações após a infecção pelo vírus (sintomas crônicos).

A chikungunya é uma doença viral transmitida por mosquitos que costuma causar febre alta e dores intensas nas articulações durante e após a fase aguda da infecção. Embora os efeitos em adultos sejam mais conhecidos, pouco se sabe sobre como a doença se manifesta em crianças e adolescentes.

Para preencher essa lacuna, os pesquisadores monitoraram os participantes com idades entre 2 e 17 anos, realizando coletas periódicas de sangue e acompanhando sintomas em consultas médicas regulares, em casos de febre ou outros sinais clínicos. As amostras foram testadas para a chikungunya, dengue e zika por meio de RT-PCR (que detecta o material genético dos vírus), sorologia (ELISA) e ensaio de neutralização viral, que avaliam a presença e a eficácia dos anticorpos protetores no organismo.

Nos casos com suspeita de infecção, sintomas e sinais foram registrados por meio de um questionário estruturado. Os casos de chikungunya foram então analisados para fornecer informações sobre o impacto da doença nesse grupo, incluindo a intensidade dos sintomas e o tempo de duração da resposta imunológica após a infecção.

No início do estudo, 23 indivíduos já apresentavam anticorpos IgG protetores contra o vírus da Chikungunya. Entre os 311 que completaram o acompanhamento, 17% testaram para o vírus, sendo 25 casos confirmados por RT-PCR e 28 casos por sorologia. Desses, 9,4% não apresentaram sintomas e 3 (12%) desenvolveram artralgia crônica, ou seja, dores nas articulações que persistiram por meses, impedindo a realização de atividades diárias. A taxa de soroconversão entre os casos positivos foi de 84%, indicando que a maioria desenvolveu anticorpos após a infecção, embora uma parcela significativa não tenha apresentado resposta imunológica detectável.

Apesar de surtos locais durante o período do estudo, apenas um quinto (20%) dos participantes foi exposto ao vírus, o que levanta questões sobre a vulnerabilidade da população pediátrica e a necessidade de estratégias de prevenção mais eficazes. Os pesquisadores concluíram que, em crianças e adolescentes, a maioria das infecções por Chikungunya é sintomática e que a doença pode deixar sequelas mesmo nesse grupo. Destacam, ainda, a importância de manter a vigilância epidemiológica e de desenvolver intervenções específicas para proteger crianças e adolescentes contra os efeitos da doença.

por Jamile Araújo com supervisão de Iana Motta

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